A Prática de Ensino



De acordo com Foerste e Foerste (s.d.) a prática de ensino, compreendida como disciplina dos cursos de formação de professores, tem colocado ao professor o desafio de construir um projeto de educação no qual teoria e prática formem uma unidade. A prática de ensino, por ser uma disciplina teórico-prática, talvez a única com essa característica em se tratando da formação de professores, hoje, desenvolve-se a partir de vivências pedagógicas no interior da escola, teorizando-a.




A Regência...
como tudo começou...

O primeiro contato com aqueles que se tornariam meus parceiros de trabalho durante dez semanas - meus alunos - me carregou a um abismo onde choques de realidade foram sendo administrados em doses homeopáticas. Exagero? Não, não é exagero expressar dessa maneira tudo que senti quando olhei para cada um dos meus 34 alunos e decifrei a expectativa formulada por eles a meu respeito. Apesar de se tratar de 34 indivíduos, cada um vivenciando o seu próprio mundo, em alguns, decifrei o sentimento de mesmice, já em outros, decifrei o desejo de experimentar algo novo e, sem titubear, partir para o novo... Som e imagem, dois elementos considerados de extrema importância para a transmissão de informações de forma dinâmica e entusiasta. Após breve diálogo entre mim e os alunos, os próximos 50 minutos foram reservados à exibição do documentário Evolução A Aventura da Vida: Mares da Vida (ver vídeos postados em Publicações). Percebi o entusiasmo dos alunos ao visualizarem as imagens. A partir daquele momento, vi a Biologia conquistar um espaço na vida escolar de cada um deles. Poucos demonstraram indiferença ao que estava sendo exibido. Após a exibição do documentário, foi estabelecida uma discussão sobre evolução e surgimento dos primeiros seres vivos. Foi surpreendente a concepção que alguns deles tinham a respeito da maneira como os seres vivos evoluíram. A discussão do ponto de vista do Criacionismo vigorou em sala em virtude da concepção Evolucionista, principalmente pelo fato de alguns alunos pertencerem ao Protestantismo. Os dois pontos de vista foram discutidos de forma que houve respeito por cada um deles. A discussão, naturalmente, gerou opiniões opostas e relevantes à compreensão do tema e serviu de ponte para que fosse explanado o conteúdo  "Introdução ao estudo dos seres vivos" com o uso de esquema em quadro branco. A partir do que foi exposto, os alunos produziram um texto como atividade extraclasse. 

Além de momentos de diversão ou lazer, assistir a um filme também pode ser uma ótima oportunidade de aprendizado. Existem muitos filmes que trazem informações, ajudam a refletir ou complementam assuntos tratados em sala de aula. Porém, é sempre necessário ter uma visão crítica desses filmes. Em especial, quando o assunto é ciência, é preciso estar atento a possíveis inconsistências entre a verdade científica e aquilo que é apresentado na história (Vilasboas, 2010).


Ensinar não se trata de apenas transferir conhecimento no ambiente da sala de aula. Ensinar é compartilhar experiências de forma mútua e desprendida, é viver o ambiente da sala de aula como se o mundo dependesse disso para continuar executando seus movimentos fundamentais de rotação e translação... (Sheila Coelho)

Segunda semana
O barco segue seu rumo...

A partir da segunda semana de aula, os alunos já demonstravam estar mais à vontade comigo, assim como eu já havia ganhado inteiramente confiança e domínio de conteúdo. A dificuldade mais grave detectada inicialmente foi a distância que ainda existia entre professor e alunos observada no momento das indagações necessárias no processo de investigação de conhecimentos prévios. Os alunos ainda se sentiam como se estivessem numa espécie de sabatina. A melhor forma encontrada de atravessar esta barreira e alcançar aquilo que desejava foi através da inversão de papéis: permitir que ao invés de serem indagados, eles me indagassem e assim, sentissem que estavam fazendo parte do processo de ensino/aprendizagem. Resultados positivos!  


Terceira semana
O desafio de ser notada... 

Um dos maiores abismos  temido por mim desde o momento que me dei conta  durante a graduação do meu papel como professora foi o de não conseguir compreender a necessidade dos alunos e dessa forma  inutilmente falar uma linguagem diferente daquela que eles estavam acostumados.  O medo de não ser notada como deveria me atormentou durante um tempo e somente o venci quando de fato me vi em sala de aula conquistando a confiança dos meus alunos. Um alívio!

Bom, os trabalhos na escola seguiram de forma tranquila, e na terceira semana de aula abordamos o conteúdo sobre vírus. O tema foi inicialmente introduzido a partir do jogo didático caça-palavras e os alunos corresponderam às expectativas. O jogo foi aplicado no tempo esperado. Porém, a aula expositiva foi realizada com o auxílio do quadro, já que o Datashow já havia sido reservado por outro professor. Ainda assim, houve reciprocidade na aula e feedback positivo. Alguns conceitos prévios e equivocados que os alunos tinham a respeito de vírus foram desconstruídos, por exemplo, “Toda doença provocada por vírus não tem cura”.



A Partir da Quarta semana 
Concretizando a realidade...
As próximas aulas seguiram os padrões normais, com a aplicação de novos jogos didáticos como a confecção de cruzadinha. A aplicação da nova metodologia pareceu estimular o sentimento de afeto velado que os alunos tinham em relação a disciplina Biologia. Infelizmente, pouco tempo é disponibilizado a uma disciplina que se dedica ao estudo da vida como um todo, tão importante no processo de formação moral de um cidadão. Ainda há muito a ser realizado em prol das mudanças que deveriam fazer parte dessa realidade e pelo pouco que vem sendo feito observei durante o tempo de estágio que o docente precisa desprender uma energia sobrenatural para realizar um trabalho ao menos próximo do que realmente deveria ser. Além de vencer as mazelas que deterioram o sistema escolar, os baixos salários, em geral, e a falta de compromisso por parte de outros profissionais que nos cercam, como docentes éticos e compromissados precisamos também adquirir o senso de obstinação exigida com o objetivo de recuperar a auto-estima deixada pelos alunos em algum canto empoeirado da história prático-pedagógica.